Apesar de sempre
escutar todos os seus filhos, admito que meu contato com Lou Reed foi um pouco
tardio. Era 2007, quando estava ensinando meu pai a ‘ripar’ CD’s para o
computador (em um passado não tão distante no interior, onde a velocidade da
internet colaborava pouquíssimo para downloads), e resolvi testar com um CD em
que eu não conhecesse. Dentre aqueles vários discos ali, um me chamou atenção
para ser o ‘cobaia’ : era New York, do Lou Reed. É claro que eu já havia ouvido
falar de sua obra (afinal, não há como ser fanático por Jesus And Mary Chain
sem ouvir falar em Velvet Underground), mas nunca havia me despertado a
curiosidade. Porém, a partir da primeira faixa (Romeo Had Juliette), vi que seria arrebatado para sempre pelo som
de Reed.
Desde então,
pouco a pouco fui me tornando mais um fã do trabalho de Lou e, fazendo o
caminho contrário, descobri o ‘Disco da Banana’. Era como se meu conhecimento
musical estivesse expandindo para uma dimensão que eu jamais esperava; junto
com a paixão pelo Velvet, veio de vez meu amor pela Música. Em um mundo tão
saturado de Beatles, Doors e Led Zeppelin (que de forma alguma são ruins, pelo contrário),
estava diante de meus olhos toda uma vertente que parecia dar sentido a todas
as noites passadas em claro assistindo MTV. Finalmente havia encontrado a raiz
de todas as bandas que eu gostava. E assim foi com White Light/White Heat,
Velvet Underground (1969) e Loaded. Sonic Youth e Jesus agora faziam muito mais
sentido para mim.
De toda forma,
não conseguia ver o Velvet sem enxergar por trás a genialidade de Reed. Sei que
Moe Tucker, Sterling Morrison e principalmente (enfoque nesse ‘principalmente’)
John Cale tinham suas peculiaridades, mas a minha paixão por Reed ia além de
seu trabalho como canalizador do Underground em forma de música. Sentia, pelo
Velvet, que ele tinha muito mais a falar. E, retornando pela forma de como eu
conheci, explorei sua carreira solo, sem me prender a New York e Transformer. E
assim, conheci Berlin.
Admito que
muito de minha curiosidade de Berlin
foi devida à paixão de Ian Curtis pelo disco (assim como pelo The Idiot, do Iggy Pop), mas quando
percebi, estava totalmente mergulhado no universo de Jim e Caroline. Simplesmente
perdi as contas de quantos sábados passei em casa ouvindo Berlin no repeat, acompanhando todos os acontecimentos, as
desgraças, as pílulas, os two-bit friends de Jim, a separação, as crianças, o
frio, os desastres...e sim, até hoje eu
devo chorar se ouvir The Kids
atentamente. Berlin faz qualquer
álbum do The Cure parecer piada para adolescentes chorões e cortadores de
pulsos. Além de tudo, me fascinava a facilidade que Lou Reed tinha para
reciclar suas próprias músicas (Berlin foi criado a partir de várias sobras do
Velvet), e transformá-las em um dos Opera Rock mais lindos que já existiu.
Poderia citar
álbum por álbum de sua carreira solo, ou então destrinchar cada disco do
Velvet, mas creio que isso não é necessário. Lou Reed é lenda por si só. E
talvez mais um deslocado em um mundo que definitivamente não foi feito para
aceitá-lo. Sempre notei, ao ouvir discos como The Blue Mask ou Legendary
Hearts, que tinha a impressão que Lou Reed cantava sozinho, como um
trovador de uma cidade solitária. Contudo, mesmo se considerando um Average Guy, Reed nunca teve medo de se
sentir livre. E de fato, era livre. Não teve medo de fracassos comerciais, não
teve medo de casar durante anos com um travesti, não teve medo de sair da
proteção de Andy Warhol, não teve medo de mostrar ao mundo a New York que os
filmes e os Eua sempre tentaram esconder. Reed escrachava, por meio de suas
letras, a falsa idéia de ‘Sonho Americano’, que tentam cuspir em nossa cara
desde que nascemos. Não poderia ser diferente, de alguém que veio do Brooklyn.
A perda de Lou
Reed não foi apenas uma perda para fãs de Velvet e de sua obra em particular.
Foi-se embora um dos maiores mitos da música, que demonstrou infinitas
possibilidades frente a um cenário musical que se via preso em “eu quero pegar
na sua mão”, ou “surfar é bom demais”. Reed abriu caminho para toda uma geração
– de Bowie a Nirvana, de Iggy Pop a Sonic Youth, de Jesus and Mary Chain a
Strokes. E este legado se estenderá por muitos e muitos anos, enquanto existirem
cópias de Velvet Underground and Nico
neste mundo.
Ps. Quando o
Morrissey morrer, talvez seja melhor nem me avisarem.
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