quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A Cereja do Bolo

Lembro que antigamente eu costumava dizer que a garota perfeita seria aquela que ouvisse Jesus And Mary Chain. É claro que, com o passar do tempo, eu vi que ninguém escuta JAMC (e por isso não há garotas perfeitas!), e comecei a estender a perfeição a garotas que ouvissem My Bloody Valentine. É óbvio que piorou, mas é somente uma brincadeira. Sei que, ultimamente, a garota perfeita pode se inserir também na categoria 'Escuta Sarah Records'.

Mês passado, me apresentaram à Sarah Records. Admito que nunca fui um fã de música muito preso à selos musicais, apesar de implicitamente entender a tendência da maioria deles, ou saber quais bandas pertencem à determinados selos, etc. Mas a Sarah... acho que foi amor à primeira vista, quer dizer, escutada. Parece até coisa de outro mundo imaginar que existiu uma gravadora entre 87 e 95 que produziu 100 singles da maneira mais pura do mundo.... é como se existisse uma gravadora que desse continuidade ao C-86 de maneira quase secreta até aos olhos dos amantes do estilo, e aparecesse agora. Quando eu ouvi pela primeira vez, o que eu pensei na hora foi exatamente "por que eu não conheci isso antes"?

É difícil bandas saberem fazer canções sobre inocência adulta, sem que soe retardado (vide a maioria das canções).  Mas as bandas da Sarah conseguem fazer isso com perfeição. Another Sunny Day, Sea Urchins, Brighter.... é como eu sempre digo: atrás das paredes de som, há uma proposta extremamente pop, uma tentativa de mudar o que escutamos nas rádios por algo mais divertido e até mais suave, apesar dos 'fuzzes'. Através dos singles, podemos perceber claramente as influências e o cenário musical na inglaterra na virada dos anos 80/90. O Jesus And Mary Chain com seu PsychoCandy abriu portas para outras bandas que jamais sonhariam em fazer sucesso com um pop barulhento, ou qualquer coisa que soasse alternativo, enquanto que as melodias e as letras dos Smiths encorajavam as bandas a tratarem de novos temas em suas canções.

Para o pessoal que não viveu a época (tanto quem não viveu na Inglaterra, até como para pessoas que nem nascidas nessa época eram, como eu mesmo) é um pouco difícil de entender o contexto, principalmente porque estamos acostumados a ver o produto da 'geração alternativa' (isto é, a explosão do Nirvana e todos os discos míticos de 91). Mas é legal observar como surgiam bandas rapidamente na Inglaterra, mesmo com o boom do dance e do house. Enquanto a Creation estava preocupada com a sua Haçienda e os Happy Mondays da vida, Sarah lançava pequenos compactos, de bandas que nunca serão ao menos reconhecidas. Dos singles que escutei, não teve um que eu possa ter julgado como ruim, e é engraçado porque não soam tampouco repetitivos, mesmo com a limitação toda. A verdade é que não é tão simples assim sair fazendo wall of sounds, tem uma certa 'lógica' no fundo das canções.

Para um fã da C-86 e da indie music (de verdade) como eu, é uma satisfação imensa saber que houve algo como a Sarah Records. E o mais interessante foi o fato de terminarem após o lançamento de 100 singles, com os dizeres:

"a day for destroying things...

... because when you were nineteen

didn't YOU ever want to create something beautiful and pure
just so that one day you could set it on fire
and then watch the city light up as it burned?
Didn't you want to do that every day of your life?

Nothing should be forever.
Bands should do one single and then split-up,
fanzines finish after one flawless issue,
lovers leave in the rain at 5am and never be seen again -

Habit and fear of change are the worst reasons for ever doing ANYTHING.

Stopping a record-label after 100 perfect releases
is the most gorgeous pop art-statement ever
and says more about pop-music than any two-part digipak
limited-edition coloured-vinyl 7"
grimly authentic lo-fi ten-track EP
(or any other marketing gimmick)
ever will.


Sarah Records is owned by no-one but us,
so it's OURS to create and destroy how we want
and we don't do encores.

We want to burn in bright colours and go pop,
to be giddy, impulsive and silly,
to kiss people in new places -
EXQUISITELY
- and dare to tear things apart.

The first act of revolution is destruction
and the first thing to destroy is THE PAST.
scary
like falling in love
it reminds us we're alive

Sarah Records 1987 - 1995"



Isso é tão.... the pains of being pure at heart, não é mesmo? O mundo anda tão corrompido, com gustavo lima e você que o próprio pessoal da Sarah Records previu isso e preferiu parar com tudo, antes que a própria Sarah se corrompesse. Quem sabe um dia, como diria o breno, as pontes de Bristol voltem a brilhar e haja algo parecido com a Sarah Records!


baixe singles da sarah records em www.amorloucobr.blogspot.com (que por sinal, é um blog excelente!!!)


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[momento você deveria ouvir....]

A Coletânea Não São Paulo I, de 1987!

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