sexta-feira, 22 de julho de 2011

Soon

Muito bem, em 2011 nós comemoramos 20 anos do lançamento de um álbum que foi um mito para a história do rock alternativo. Até hoje nós podemos notar suas influências nas bandas atuais, e a cada vez mais, o respeito que vem ganhando dentro do cenário musical, assim como a genialidade de seus membros, que hoje seguem alguns projetos paralelos em bandas descoladas. Mas é claro que estamos falando do Nevermind, do Nirvana Loveless, do My Bloody Valentine!!!!

Meu primeiro contato com Loveless foi em 2006. Não me agradou muito, para ser bem sincero. Na verdade, eu estava escutando na mesma época o "Nowhere", do Ride, e músicas como "Vapour Trail" e "Polar Bear" não deixavam eu querer escutar uma outra coisa, mesmo que soasse parecido. Assumo que não consegui escutar muito mais do que uma barulheira na primeira vez que eu ouvi o disco. E olha que eu já estava acostumado com Jesus And Mary Chain...

Mas, ainda bem que a gente sempre cansa de escutar as mesmas coisas e depois tenta dar uma peneirada na própria biblioteca para achar algo que ainda não está tão enjoado assim. Desse modo, quase dois anos depois, eu animei a escutar o Loveless de novo. Confesso que mais uma vez, o álbum passou batido pelo menos ouvidos. Porém, dias depois, o maldito riff de "Soon" insistia na minha cabeça, e eu ficava cantarolando isso o tempo inteiro mentalmente. Era semi-hipnótico. E o pior: eu não lembrava daonde que eu tinha escutado, então eu ouvi o disco mais uma  vez para achar o riff em loop eterno e etéreo. Agora sim, eu (re)descobri o álbum, para ser apaixonado por ele para sempre.

Loveless não é um álbum qualquer, e muito menos um álbum feito para ser de escuta fácil. Ele te requer paciência, certo estado de espírito, e por que não, um aparelho de som decente. Todas as músicas estão repletas de camadas de som, de modo que as vozes de Bilinda e Shields são quase inteligíveis no meio do barulho, se tornando quase notas de guitarra. A verdade é que o som das guitarras é tão magnífico que todos os outros instrumentos e recursos se tornam meros coadjuvantes nesse disco. E não é por menos. Dizem que Loveless foi um dos discos mais caros da história da Creation, além de ser gravado em várias frequências, devido às exigências de Kevin Shields. Imagino quanta música deve ter sobrado, e ele não quis inserir no disco por achá-la "inferior" às outras. De qualquer jeito, é difícil imaginar algum modo de melhorar esse disco.

Cada música possui a sua peculiaridade, o seu toque especial, a sua mistura de shoegaze + dream pop. Sempre que são escutadas novamente, pode-se perceber um detalhe a mais, aquela guitarra distorcida lá no fundo, aquela oscilação na parede de som, ou a alternância na sua música favorita. Além de tudo, Loveless é uma evolução para a própria banda, uma vez que a partir de Loveless (na verdade, iniciou-se em Isn't Anything, o álbum antecessor) o conjunto começava a se desvincular do espírito C-86 que ainda permeava as canções. Não que  sua fase anterior seja ruim - pelo contrário, os singles do primeiro momento da banda são fantásticos, talvez deva escutá-los atualmente até mais que o próprio Loveless - mas My Bloody Valentine passou do patamar de banda notável e influenciada de sua vertente para banda influenciadora, a banda-símbolo do Shoegazing.

É desnecessário falar de cada música separadamente, e nem sei se isso seria certo. Elas constroem entre si um elo, qual são interdependentes. Uma completa a outra dentro do álbum, a ordem está perfeita. A sinestesia que o disco contém em si pode ser percebida claramente quando se fecha os olhos e você só consegue pensar em branco e vermelho. É uma sincronia inexplicável.

Loveless hoje é um marco para o shoegazing, e a influência de My Bloody Valentine continua em expansão, dentro ou fora de seu gênero musical. Principalmente na atualidade, em que as bandas que estão surgindo voltaram a ter consciência que colocar um computador para operar músicas é tarefa de profissionais como Brian Eno, Kraftwerk, ou até mesmo Daft Punk, e não para bandas de rock. E que sim, o barulho pode se tornar música, a nível de obra de arte.